Escreva os termos da sua busca

Meio Ambiente

Pesquisa da UFSC cria método para identificar veneno proibido nas águas

Uma pesquisa realizada no Programa de Pós-graduação em Química da UFSC, considerado com nível de excelência na última avaliação da Capes, está desenvolvendo um método inovador para identificar um veneno de uso proibido nas águas. A proposta da pesquisadora Marília Reginato de Barros, orientada pela professora Cristiane Luisa Jost, é utilizar um material novo, composto de titânia-sílica, para possibilitar a identificação de um agrotóxico altamente perigoso na água.

O pentaclorofenol (PCP), conhecido também como ‘pó da China’, é utilizado para tratamento de madeira e em lavouras de tabaco, podendo provocar câncer, além de causar depressão por afetar o sistema nervoso central. Ao decidir estudá-lo, a pesquisadora também tinha o objetivo de fazer uma denúncia, alertando a sociedade para os riscos dos agrotóxicos.

Parte dos resultados da tese, em fase final de elaboração, foram publicados no Microchimica Acta, periódico de alto impacto da Springer Nature, uma das editoras mais relevantes do mundo. O estudo A high-performance electrochemical sensor based on a mesoporous sílica/titania material and cobalt(II) phthalocyanine for sensitive pentachlorophenol determination apresenta um método eletroquímico e discute a necessidade de metodologias confiáveis para identificação de um poluente orgânico persistente.

No estudo, Marília explica seu método, que consistiu em utilizar novos materiais de titânia-sílica. A titânia é naturalmente encontrada em rochas e sedimentos e tem um bom grau de homogeneidade, sendo usualmente aplicada em diversas áreas tecnológicas. A sílica também possui propriedades físicas e químicas que garantem bons resultados em aplicações tecnológicas, com qualidades voltadas à estabilidade e resistência térmica e mecânica. “Com a incorporação de grupamentos orgânicos nesses materiais de titânia-sílica novas propriedades são adicionadas a estes materiais”, explica a pesquisadora.

A pesquisa trabalha justamente com a investigação desta nova possibilidade, usando a eletroquímica para determinar a quantidade de agrotóxico nas águas. “Os resultados apresentaram apreciável sensibilidade, estabilidade e limite de detecção dentro das faixas previstas na legislação brasileira de proteção ambiental”, aponta o resumo do estudo. “Isso explica a necessidade de metodologias confiáveis ​​para esse poluente orgânico persistente”.

O estudo confirma que o novo método eletroanalítico é eficiente para ser aplicado em protocolos de rotina. “As descobertas ajudarão a determinar o PCP em outras amostras ambientais relevantes”. Na primeira etapa do trabalho, Marília sintetizou e caracterizou os novos materiais de titânia-sílica. Na segunda parte descrita no artigo, discutiu a aplicação da proposta, que é viável em várias frentes, mas no caso do estudo se concentrou no escopo desenvolvido pelo Laboratório de Plataformas Eletroquímicas, o Ampere.

“Utilizamos um método eletroanalítico, com um sensor quimicamente modificado com esse material que produzi: uma pasta de grafite junto com o material, que é condutor”, explica Marília. A ideia do método é responder qual a quantidade de pentaclorofenol na água. Para isso, foram realizados testes com amostras fortificadas – quando o pesquisador simula a contaminação – extraída na região de Urubici, próximo a uma plantação orgânica de tabaco.

“O pentaclorofenol é considerado um dos poluentes prioritários no mundo. Ele é muito tóxico, carcinogênico e houve casos de apreensão na última década. Há regiões em que seu uso foi relacionado a casos de suicídio, porque ele afeta o sistema nervoso central”, explica Marília. Ela também usou na análise amostras fortificadas coletadas na Lagoa da Conceição, que costuma apresentar resíduos que são quimicamente semelhantes ao veneno.

De acordo com a pesquisadora, em 2021 foi disponibilizado pelo Ibama o último boletim anual de produção, importação, exportação e vendas de agrotóxicos no Brasil, que contabilizou um total de 686.349,87 tonelada de ingredientes ativos legalmente comercializados. Como o método eletroquímico tem sido bem sucedido na identificação dos materiais desse tipo, Marília decidiu usar o conhecimento e revertê-lo também em um alerta. “Foi encontrada uma aplicação, uma aplicação potente. Mas o meu objetivo com a tese também é problematizar isso, a normalização e a liberação de agrotóxicos”, diz.

Fonte: Amanda Miranda – Jornalista da Agecom/UFSC.

Confira também: Pesquisa da UFRGS e UEA aponta que fungos da casca-preciosa podem ser capazes de degradar plástico

Compartilhe
Tags:

Leia Também

Leave a Comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *