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Meio Ambiente

A natureza como solução para as enchentes no Rio de Janeiro

A solução para as enchentes no Rio de Janeiro pode ser mais simples do que se pensava: as ‘Soluções baseadas na Natureza’ visam solucionar problemas da sociedade com base na proteção e recuperação de áreas naturais. Um estudo recente, divulgado pelo Instituto de Biologia da UFRJ – Programa de Pós-Graduação em Ecologia aponta que justamente estas soluções baseadas na regeneração da vegetação no Estado do Rio de Janeiro podem ser capazes de reduzir consideravelmente o risco de enchentes frente a um futuro incerto de mudanças climáticas. Visto que a raça humana vem continuamente invadindo espaços sem levar em consideração impactos negativos para ela mesma, é importante considerar a ‘reutilização’ da própria natureza, por assim dizer, como meio para evitar a ocorrência daquilo que pode vir a ser considerado uma tragédia, como enchentes, deslizamentos.

O referido estudo, intitulado “Prevenção de enchentes no Rio de Janeiro: As Soluções Baseadas na Natureza como adaptação à eventos climáticos extremos”, foi inclusive premiado pelo Instituto Estadual do Ambiente (INEA), no concurso “II Prêmio INEA Soluções baseadas na Natureza para o Desenvolvimento Sustentável”, a ser publicado pela Revista Ineana do instituto em 2022. O objetivo do concurso era premiar trabalhos acadêmicos que propusessem soluções e que pudessem ser colocados em prática para melhoria do Estado. As responsáveis pela elaboração do trabalho são Stella Manes, doutoranda do programa de Ecologia da UFRJ, e Aliny P. F. Pires, professora do departamento de Ecologia da UERJ.

As pesquisadoras vêm desenvolvendo diversos trabalhos sobre o potencial das Soluções baseadas na Natureza e como estas podem reverter os riscos climáticos às contribuições da natureza para as pessoas (como água, alimentos, proteção contra desastres, recreação e conexões culturais) em seu grupo de pesquisa. Este trabalho tem contado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) através da bolsa de pesquisa Doutorado Nota 10 e financiamentos de Auxílio à Pesquisa (APQ1) no projeto “Água: Integrando biodiversidade à segurança hídrica do Estado do Rio de Janeiro”, além de parcerias com os institutos Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) e Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede-Clima).

As enchentes estão entre os maiores problemas ambientais no Estado do Rio de Janeiro. Apenas na capital, estima-se que mais de 450 mil pessoas vivem em áreas de risco de enchentes. Em 2011, enchentes na região Serrana do Estado deixaram mais de 35 mil moradores desabrigados e dezenas mortos, acumulando mais de R$4,8 bilhões em perdas econômicas.

De forma preocupante, o risco de enchentes no Estado está previsto para aumentar em um futuro de mudanças climáticas. As mudanças climáticas, além de aumento considerável na temperatura do planeta, vão aumentar a frequência e intensidade de eventos extremos de precipitação, causando um aumento nas enchentes, por exemplo. Esses eventos extremos já vem inclusive sendo noticiados ao redor do mundo, com diversos meios atribuindo tais ocorrências às interferências antrópicas abusivas no meio do qual depende e que parece não se dar conta disso.

Como mais um exemplo dessa interferência, vale a pena mencionar também, mudanças climáticas refletidas em uma das maiores áreas úmidas do mundo, ou seja, o Pantanal. Em estudo publicado em 2020, pesquisadores verificaram, por exemplo, que embora seja encontrado um pulso de inundação bem definido no Pantanal do Norte, ao longo de uma série histórica de 42 anos, o número de dias sem precipitação aumentou muito, assim como a perda de massa de água na paisagem nos últimos 10 anos, especificamente durante a estação seca.

Mas continuando sobre estudo de Stella e Aliny, as pesquisadoras avaliaram o risco de enchentes considerando estes eventos extremos de precipitação caso nenhuma ação seja implementada. Surpreendentemente, os resultados mostram que o risco de enchentes não é proporcional a quantidade de aumento de chuva: um evento extremo máximo com intensidade da chuva 10 vezes maior que a média atual pode levar a aumentos de até 70 vezes no risco de enchentes em um futuro de mudanças climáticas. Isto ocorre porque a capacidade de retenção da água no solo nestes eventos sofre uma queda de mais da metade, sendo incapaz de conter o imenso volume de chuvas.

Entretanto, o estudo revela que as Soluções baseadas na Natureza possuem enorme potencial para reduzir este risco, como solução para as enchentes. As pesquisadoras analisaram as vantagens de diferentes proporções de recuperação da vegetação e identificaram a que possuía melhor custo-benefício para o Estado. Seus resultados apontam que a recuperação apenas de áreas de regeneração natural com prioridade alta-média, onde a cobertura vegetal passaria a representar apenas 30% da área do Estado, há retenção de mais de 100 milhões de metros cúbicos de água.

E os benefícios não param por aí. Já se sabe que a natureza é capaz de prover inúmeros benefícios adicionais, além da prevenção de enchentes, que superam significativamente os custos da recuperação vegetal. As pesquisadoras contabilizaram benefícios financeiros de pagamentos por serviços ambientais para a recuperação destas áreas, e apenas incluindo alguns dos benefícios (a contabilização de sequestro de carbono, produção de madeira e frutos de palmeiras), os potenciais benefícios superam os custos de implementação e manutenção em mais de R$8 milhões por ano. 

Estudos acerca do potencial das Soluções baseadas na Natureza são essenciais para promover um futuro que englobe melhoria social, econômica e natural, em prol da sustentabilidade. A pesquisa de Stella e Aliny traz, portanto, contribuição importante tendo em vista que várias regiões do país tendem a sofrer com o problema relatado, o que não é difícil de ser confirmado devido ao noticiário constante não apenas em caráter nacional, como em mídias regionais e municipais.

Fonte: Modificado de: Instituto de Biologia da UFRJ – PPG Ecologia.

Confira também: Estudo analisa o uso de coberturas alternativas do solo para o controle das perdas em regiões semiáridas

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