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Ciências Agrárias

Elementos-traço no solo, na planta e no grão de plantas de milho cultivadas em latossolos tratados com lodo de esgoto por 16 anos

O lodo de esgoto (LE), um produto final em Estações de Tratamento de Esgoto (ETE), se trata de um resíduo semissólido com composição predominantemente orgânica, podendo apresentar variações de acordo com sua origem e processo de tratamento empregado em determinada ETE.

Como observado pelos autores do artigo aqui apresentado, a vultosa produção deste produto, sobretudo em grandes centros urbanos, tem norteado algumas pesquisas sobre alternativas de destinação, como o uso desse resíduo na agricultura, na forma de fertilizante. Trata-se de uma alternativa de grande viabilidade econômica, contribuindo também com o meio ambiente por meio de ciclagem de nutrientes, pois o LE possui elevado conteúdo de matéria orgânica e de nutrientes para as plantas, apresentando o potencial de diminuir o uso de fertilizantes minerais.

Mas sua aplicação continuada precisa ser acompanhada. Uma das maiores preocupações quanto à aplicação de LE no solo se deve à contaminação por elementos-traço, dada a persistência destes no ambiente e seu alto poder de toxicidade. Os elementos-traço em geral estão associados com toxicidade e poluição, ainda que alguns sejam essenciais, como Cu, Fe, Mn, Zn e Mo, e outros não, como Pb, Cd, Hg e As.

Nos solos, a presença dos elementos-traço é normal em condições naturais, e, na maioria das vezes, estão presentes em concentrações ou formas que não oferecem risco ao ambiente. As atividades humanas, contudo, de alguma maneira, adicionam ao solo materiais que contêm esses elementos químicos, podendo proporcionar concentrações muito altas capazes de comprometer a qualidade do ecossistema.

O acúmulo destes elementos no solo pela aplicação de LE e a possibilidade de transferência de tais elementos químicos às plantas, uma das vias para chegar à cadeia alimentar humana, são motivo de preocupação e de muitas pesquisas. Assim, os pesquisadores tiveram como objetivo avaliar os teores de elementos-traço As, Ba, Cd, Cr, Cu, Hg, Mo, Ni, Pb, Se e Zn no solo, na planta e nos grãos de milho cultivados com aplicação anual por 16 anos ininterruptos, em dois latossolos.

Os tratamentos foram impostos sempre nas mesmas parcelas experimentais instaladas no ano agrícola 1997/98, em dois latossolos do município de Jaboticabal (SP). O delineamento experimental foi em blocos casualizados com quatro tratamentos (doses de LE) e cinco repetições, em parcelas com 60 m² (6×10 m). Os solos receptores do LE foram o latossolo vermelho eutroférrico (LVef) – área experimental 1; e latossolo vermelho distrófico (LVd) – área experimental 2.

No primeiro ano, as doses aplicadas de LE foram as seguintes:

• 0: testemunha, sem aplicação de LE e sem fertilização mineral;

• 2,5 t ha-1 LE;

• 5,0 t ha-1 LE;

• 10,0 t ha-1 LE, em relação à matéria seca.

A dose 5 t ha-1 de LE foi estabelecida para fornecer o N exigido pela planta de milho, admitindo-se que 1/3 do N contido no resíduo seria disponibilizado para a cultura. Do segundo ano em diante, optou-se por adubar o tratamento testemunha de acordo com a análise do solo e as recomendações do Boletim Técnico Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. A partir do quarto ano, as parcelas que recebiam 2,5 t ha-1 de LE passaram a receber 20 t ha-1, sendo estas doses utilizadas também nos anos seguintes. Dessa forma, os tratamentos do 16º ano foram:

• 0: testemunha, sem aplicação de LE e com fertilização mineral;

• 5 t ha-1 LE;

• 10,0 t ha-1 LE;

• 20,0 t ha-1 LE, em relação à matéria seca.

O milho (Zea mays L.) foi a cultura utilizada nos anos agrícolas 1996/97 a 2001/02. Já em 2002/03, utilizou-se o girassol (Helianthus annuus L.), com produtividade de 1,5 a 2,5 t ha-1, e em 2003/2004, a crotalária (Crotalaria juncea L.), com produtividade de 0,5 a 1,0 t ha-1, visando à rotação de cultura. De 2004/05 a 2007/08, voltou a ser cultivado o milho. No ano agrícola 2008/09, usou-se o girassol e, do ano 2009/10 até 2012/13, novamente o milho.

As determinações dos elementos-traço foram feitas por espectrofotometria de absorção atômica. Os resultados analíticos obtidos para teor total de elementos-traço (As, Ba, Cd, Cr, Cu, Hg, Mo, Ni, Pb, Se e Zn) nas amostras de solo foram comparados com os valores orientadores estabelecidos pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo e pela Resolução CONAMA nº 420/09.

Os autores verificaram que a aplicação de 10 e 20 t ha-1 de LE, matéria seca, aumentou os teores totais de Cu no LVef e de Cu, Ni, Pb e Zn no solo LVd, entretanto sem ultrapassar os valores de prevenção (VP) estabelecidos pela legislação brasileira, em termos de qualidade do solo agrícola. Os teores de Cd, Ni, Pb e Zn na parte aérea de plantas de milho cultivadas em LVd e LVef aumentaram com a aplicação de LE, mas não houve diferença entre doses de 5, 10 e 20 t ha-1. À exceção do Ni, os teores de elementos-traço nos grãos de milho permaneceram abaixo dos limites estabelecidos para o consumo humano, quando cultivados nos dois solos estudados.

Fonte: YADA, M.M.; MELO, W.J. de; MELO, V.P.de. Elementos-traço no solo, na planta e no grão de plantas de milho cultivadas em latossolos tratados com lodo de esgoto por 16 anos. Engenharia Sanitária e Ambiental [online], v. 25, n. 02, p. 371-379, 2020.
Leia o artigo completo. Acesse: doi.org/10.1590/S1413-41522020150124.

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