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Ciência e Tecnologia

Aprimoramento do tijolo adobe com adição de bagaço de cana-de-açúcar aumenta sua resistência em mais de 200%

Habitações em regiões rurais tendem a ser pouco resistentes em relação àquelas que utilizam de alvenaria estrutural, método construtivo mais comumente utilizado nas regiões urbanas. Um dos motivos é a utilização do material Adobe, ou Adobro, para a sua construção. Como observado na pesquisa de Mota et al, por ser um tijolo que não tem padronização quando é fabricado, seu produto final possui um nível de qualidade variável.

O Tijolo Adobe é constituído basicamente de areia, argila, água e uma fibra, geralmente de composição orgânica, a qual oferece maior estabilidade química e física ao produto. Esses compostos fibrosos, utilizados como aditivo na fabricação do adobe, têm relação direta com sua resistência, porém o mais explorado no interior é o capim, por sua facilidade de obtenção.

As habitações construídas com o material têm alguns problemas significativos, as quais, devido à baixa resistência à compressão, possuem um “limite” de peso para sua construção. A falta de vedação de qualidade juntamente com a alta absorção de água também são problemas encontrados nessas residências.

A proposta encontrada inicialmente pelos autores, para o aprimoramento desse tijolo, seria uma alteração na fibra a ser adicionada. Atualmente, alguns tipos de aditivos demonstraram resultados interessantes: a utilização da fibra do coco verde, fibra de bambu, semente do açaí e bagaço de cana-de-açúcar. Sabendo-se que na região rural de Minas Gerais é mais comum de se obter a cana-de-açúcar como material para sua utilização no Tijolo Adobe, as pesquisas foram concentradas na utilização desse material para ganho de resistência mecânica.

A cana-de-açúcar, originada no sudeste asiático, foi bem sucedida ao ser introduzida no país dada sua fácil adaptação climática e ambiental. E com o aumento das atividades agroindustriais, a geração de subprodutos também apresenta expressiva evolução, resultando em um problema: o destino dos resíduos sólidos obtidos com atividades relacionadas, tais como a sucroalcooleira. Tanto a produção de açúcar, sem impurezas e com cristais uniformes, quanto a fabricação do etanol são processos altamente geradores de resíduos sólidos. Para cada tonelada de cana esmagada ou moída, são obtidos 120 kg de açúcar e 14 L de álcool. Porém, o número de resíduos também é significativo: 100 a 400 kg de torta de filtro, 800 a 1000 L de vinhaça e 260 kg de bagaço de cana. Ou seja, o resíduo industrial, caso não seja gerenciado de maneira adequada, pode gerar problemas consideráveis ao meio ambiente.

Voltando às análises realizadas, e como observado pelos pesquisadores, para comprovar o aumento de resistência à compressão, é necessário um método científico para a aplicação dos testes. Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT, o tijolo adobe não possui normatização em seu processo de fabricação. Portanto, foram utilizadas as normas NBR 15270-1(2005) e NBR 15270-2 (2005), as quais especificam os limites e requisitos para utilização do tijolo em alvenaria.

Os tijolos foram feitos a partir de moldes de madeira, com acabamento em seu perfil, para não absorver a umidade do tijolo, cada um com medidas de 20 x 10 x 8cm. Após a mistura ser colocada nas formas, foi necessário um tempo para que os tijolos ficassem rígidos o suficiente para serem retirados e postos para secagem sobre um suporte. Após a primeira secagem, foi necessário um tempo de cura de aproximadamente 15 dias devido à massa ter ficado muito úmida.

Para a fabricação do Tijolo Adobe, foi determinada a realização de uma série de testes e observações para que, antes de se atingir o resultado esperado, fosse possível apurar os resultados adquiridos em testes laboratoriais. O aditivo utilizado no estudo, o bagaço de cana-de-açúcar, foi imerso em água por 3 dias, para retirar suas impurezas. Depois desse tempo, foi colocado em um forno para secagem e em seguida moído e pesado.

Para os primeiros corpos de prova, em 3 grupos de tijolos com 10g, 20g e 30g de aditivo respectivamente, foram realizados testes de compressão, seguindo a NBR 15270-2. Para a realização dos testes, foi utilizada uma prensa hidráulica elétrica capaz de admitir a força necessária para o rompimento dos corpos de prova. Os resultados dos testes preliminares foram úteis para uma melhor aproximação da melhor proporção entre aditivo e traço do tijolo. Baseando-se nesses resultados, foi apontado que uma proporção ideal estaria entre 15g a 20g de aditivo, sendo então fabricado mais um lote de tijolos para testes para em seguida, depois de análises de resultados obtidos com esse segundo lote, ser feito um terceiro lote para conclusões finais.

Mota et al obtiveram valores satisfatórios neste último teste. Apesar de o tijolo adobe não possuir norma que estabeleça sua resistência mínima, diferente da alvenaria estrutural, os valores se aproximam muito dos limites da NBR 15270-1, o que proporciona uma segurança na utilização do mesmo em construções. Para o Tijolo Adobe com aditivo da fibra de cana-de-açúcar, obteve-se que o valor 17g corresponde à melhor dosagem para que se chegue à maior resistência à compressão. Levando à conclusão que, em relação ao Tijolo Adobe comum, o acréscimo foi de 231% no valor da resistência. Assim, percebe-se também que o resíduo de cana-de-açúcar pode ser aproveitado na construção civil para fabricação de Tijolo Adobe.

Fonte: MOTA, D.M.P.; OLIVEIRA, M.O.; ROCHA, D.deJ.; NUNES, G.M.P.; SANTOS, G.M.S.; PEREIRA, R.W.; JUNIOR, S.H.F.; DINIZ, S.J.S.; MADELLA, U.G.S. Aprimoramento do tijolo adobe com adição de fibras da cana-de-açúcar. Revista Gestão & Sustentabilidade Ambiental, v. 9, p. 253-264, 2020.
Leia o artigo completo. Acesse: dx.doi.org/10.19177/rgsa.v9e02020253-264.

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