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O que os girinos comem? Estudo desenvolvido por Jéssica Kloh aponta que eles adoram pólen e podem fazer uma verdadeira dança para consegui-los!

Os girinos representam a fase larval aquática da maioria dos anfíbios anuros, como sapos e rãs. Diferente dos adultos, os girinos possuem uma grande diversidade de formas, cores e comportamentos, seus lares são poças temporárias, lagoas e riachos, porém, até mesmo uma fonte artificial de uma casa, pode abrigar esses animais.

No Brasil, eles são companheiros bastante conhecidos, uma vez que temos em nossas águas o maior número de espécies registradas de anuros do mundo. Para se ter uma ideia, são cerca de 988 espécies identificadas. Apesar de toda essa diversidade de girinos, ainda temos muito o que descobrir sobre suas histórias. Por exemplo, você sabe o que os girinos comem?

Para entender esse processo, a pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Jéssica Kloh foi trabalhar na Serra do Cipó – Parque Nacional localizado em Santana do Riacho, no interior de Minas Gerais, com uma abundância de riquezas naturais. Seu objetivo era conectar o que esses organismos comem com o formato do seu corpo e comportamento. A pesquisadora queria saber o que os girinos dessa área comem e se o formato ‘diferentão’ do seu corpo o ajudava de alguma forma a conseguir o alimento.

A partir das análises, Jéssica descobriu que os girinos, desta região, adoram pólen e para consegui-lo fazem uma verdadeira dança para pegá-lo nas superfícies das águas. “Por isso o nome do meu projeto é ‘Tadpoles Dance – Estratégias alimentares em Girinos’, onde Tadpoles, significa girinos, e dance, é uma alusão ao comportamento deles para capturar o pólen”, conta Jéssica.

Esqueça o príncipe, eu amo os sapos!

Desde criança, Jéssica é apaixonada pela natureza, principalmente pelos animais que, normalmente, as pessoas não são fãs, como morcegos e sapos. “Gostava de observar insetos e pássaros, algo não tão comum para uma criança dos anos 90, principalmente uma menina”, lembra Jéssica.

Assim, o caminho para a Bióloga foi natural para a pesquisadora. Já o interesse em trabalhar com os girinos, surgiu no início da graduação em 2010, quando ela teve contato com a disciplina de Zoologia e começou a conhecer mais sobre o grupo dos Anfíbios. “Fui em busca de uma oportunidade de estágio no Laboratório de Ecologia Evolutiva de Anfíbios e Répteis (LEEAR) da PUC Minas, coordenado pela professora Paula Eterovick, citada como uma das pesquisadoras mais importantes do mundo pela revista Plos Biology”, conta a pesquisadora.

O flerte científico deu match e Eterovick passou a orientar a pesquisadora. “Comecei a acompanhar seus alunos em trabalhos de campo na região da Serra do Cipó, e nessas saídas encontrava muitos girinos. Os observava por um tempo e ficava intrigada com o comportamento que eles tinham de raspar as superfícies na busca por alimento”.

Curiosa, Kloh buscou na literatura mais informações sobre o que e como os girinos se alimentam, porém não encontrou nenhum estudo que respondesse a sua dúvida. “Assim, resolvi propor a professora Eterovick, ainda na graduação, um projeto sobre a dieta de girinos e ela prontamente me incentivou a realizá-lo. Desde então tenho me aprofundado no tema em dissertações de mestrado e, agora, no meu doutorado”, conta a pesquisadora.

Porém, nem tudo são flores no estudo dos girinos. Segundo, Jéssica obter as informações não é nada fácil e exige muita paciência, já que as observações em campo e laboratório podem demorar horas. “Além disso, são organismos muito pequenos e frágeis, por isso quando precisamos analisar, por exemplo a sua dieta, é preciso muito cuidado para extrair
as informações”, relata a pesquisadora.

Engenheiros da água doce

Mas qual a importância desses organismos para o meio ambiente? Segundo Kloh, o girino é muito importante no ambiente aquático, podendo ser chamado de “Engenheiro dos ecossistemas aquáticos de água doce”, uma vez que sua presença gera uma série de estruturas importantes para a manutenção de um ambiente saudável. “São importantes para a ciclagem de nutrientes, transferência de energia do ambiente aquático para o terrestre, tem impacto na produção primária das algas e principalmente participam das cadeias tróficas locais”, explica a pesquisadora.

Nesse sentido, é de extrema importância estudar essas espécies na Serra do Cipó, uma vez que o turismo descontrolado, nas regiões de cachoeiras e riachos, afeta a reprodução dos anfíbios e consequentemente o estabelecimento dos girinos nesses ambientes. “Seja pela grande presença de pessoas nos locais ou pela contaminação dos corpos d’água com produtos cosméticos ou resíduos deixados no local pelas pessoas”, alerta.

Tudo isso afeta diretamente a taxa de sobrevivência dos girinos nesses ambientes, podendo gerar perdas irreparáveis, principalmente de espécies raras e endêmicas. “Estudos como o que desenvolvemos são importantíssimos para que possamos conhecer melhor a história natural das espécies e com isso realizar planos de manejos eficientes para sua
conservação”, pontua a cientista.

Confira também: Ecobarreira em Porto Alegre-RS já contribuiu com retirada de 840t de resíduos flutuantes que poderiam contaminar a principal fonte de abastecimento de água da capital

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