Saneamento ambiental em área insular – o aproveitamento das águas pluviais como melhoria em uma comunidade ribeirinha amazônica
Sabe-se da deficiência em questões do saneamento básico que ainda persiste no Brasil, sendo a região norte uma das que mais apresentam carências relacionadas a esses serviços. No caso das ilhas amazônicas, por exemplo, a deficiência do saneamento básico e nos serviços de abastecimento de água vêm acarretando sérios problemas ambientais e de saúde humana. Conforme apresentado no artigo de Santos et al (2020), o isolamento geográfico das comunidades ribeirinhas amazônicas dificulta a instalação de um sistema público coletivo de água e colabora com a deficiência no saneamento básico e nos serviços de abastecimento de água, acarretando sérios problemas ambientais e de saúde pública.
Mas devido aos elevados índices pluviométricos característicos do estado do Pará, há a oportunidade da instalação de sistemas de aproveitamento de água da chuva como alternativa sustentável às ilhas. Diante do exposto, o objetivo do estudo foi levantar informações a respeito do saneamento básico da comunidade ribeirinha Ilha das Onças, PA, que se encontra na área insular de Barcarena-PA, e implementar um sistema de reaproveitamento de água das chuvas para fins potáveis, a fim de melhorar a qualidade de vida dos moradores.
Foram feitas análises antes e depois do tratamento das águas pluviais, sendo que com o sistema de reaproveitamento montado, realizaram-se coletas e análises de amostras de água após o tratamento aplicado, no período de três meses, a fim de comprovar sua eficiência. Os parâmetros avaliados foram os aspectos físicos, químicos e biológicos (pH; turbidez; temperatura, amônia; coliformes termotolerantes e totais).
Antes do tratamento, observou-se que alguns parâmetros estavam fora dos padrões estabelecidos pela ABNT NBR 15.527, que dispõe dos requisitos de água de chuva para o aproveitamento em cobertura em áreas urbanas para fins não potáveis. O pH apresentou valor de 5,7 e foi verificada a presença de coliformes totais e termotolerantes, estando fora do que preconiza a norma.
O sistema de captação e tratamento de água pluvial caseiro instalado possui filtro composto por pedra de rio (30 cm), carvão (10 cm) e areia (20cm) e a análise dos parâmetros após o tratamento no sistema demonstrou que todas as amostras se encontravam dentro dos padrões de potabilidade estipulados pela Portaria N°2.914/11 do Ministério da Saúde. O pH, após o tratamento apresentou valor de 6,8 estando próximo do neutro. Os coliformes totais e termotolerantes foram totalmente removidos.
Também foram aplicados questionários com as famílias dos moradores da Ilha e, dentre os resultados observou-se, em relação às informações referentes às principais fontes de água e seu uso, que a maioria dos moradores utilizavam a água do Barqueiro, essa tendo sua origem de uma localidade chamada São Felipe, retirada de um poço artesiano, sendo fornecida pela prefeitura, em sua maioria utilizada para a ingestão direta. Observou-se ainda que a água dos rios tem seu maior uso para a higiene pessoal. No entanto, uma parcela desses habitantes a utiliza para ingestão direta. Salienta-se que menos de 5% dos indivíduos utilizam água mineral para o consumo direto.
Quanto aos principais tratamentos relatados para a ingestão direta da água retirada do rio, os pesquisadores verificaram que geralmente os mais usados são o tratamento simples como fervura, e também o uso de produto químico como o sulfato de alumínio, que é empregado como agente coagulante para remover substâncias responsáveis pela presença de cor na água, ou hipoclorito de sódio. Algumas pessoas relataram o uso de água sanitária.
Todavia, 15% das famílias entrevistadas informaram o uso de água in natura do rio, alegando a falta de conhecimento de métodos específicos de tratamento ou em decorrência à falta de água potável concedida pela prefeitura.
Em relação a destinação dos esgotos sanitários pelas famílias, a maioria lança seus esgotos diretamente no rio, havendo um índice alto de famílias que utilizam fossa negra, e menos de 5% dispõe de fossa séptica. Na Ilha, conforme as informações obtidas por meio do questionário, observou-se que não há coleta de lixo pela prefeitura. Assim, notou-se apenas dois destinos designados pelos moradores, as queimadas e o descarte no rio.
Outra informação obtida foi relacionada às doenças de veiculação hídrica, com as mais comuns nos moradores sendo as verminoses, apresentando em mais de 50% dos habitantes, seguindo da disenteria, dermatocomicoses e hepatite A.
Mas observada a situação das famílias residentes da Ilha das Onças, os benefícios obtidos por meio da implantação do sistema captação e tratamento das águas pluviais mostra que essa é uma alternativa eficaz para melhoria nas condições sanitárias das populações que residem nessas áreas. Também é perceptível, por meio dos resultados dos questionários aplicados, que a população ainda é muito carente da devida atenção e informações para que realmente desfrutem das melhores condições sanitárias possíveis.
Leia o artigo completo. Acesse: dx.doi.org/10.19177/rgsa.v9e32020726-741.