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Meio Ambiente

Estudo de longo prazo analisa como ocorre a degradação de bitucas de cigarro no ambiente

Em dezembro de 2021, foi organizado pelo Mundo SEM Bitucas (@mundosembitucas), o II Seminário “Bitucas no mar e na terra: reflexões sobre impactos e soluções”. Uma das palestras realizadas no dia 03/12 foi feita pelo professor Giuliano Bonamomi, da University of Naples Federico II, na Itália. 

Em sua apresentação, o professor falou sobre a pesquisa realizada por sua equipe na universidade, que teve por objetivo fazer um experimento de longo prazo envolvendo as bitucas de cigarro de modo que pudesse ser avaliada sua decomposição ao longo dos anos. Foram mostrados resultados obtidos para o período de 5 anos, já que a conclusão do experimento para o total de 10 anos havia sido concluído uma semana antes da apresentação. Várias análises haviam sido iniciadas no período, começando com análises biológicas, químicas, e microbiológicas, buscando entender o que aconteceu em 10 anos. 

Para a execução dos experimentos, bitucas de cigarro foram coletadas ainda em 2011, sendo que a quantidade total alcançou 12.000 unidades. O material foi depositado considerando 5 diferentes substratos: em duna de areia; em campina; em laboratório com mesmo solo coletado desses ecossistemas; e a última condição sem solo, como que para simular condição sobre concreto ou asfalto. As análises foram realizadas dentro dos prazos de 1 mês, 3 meses, 6 meses, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 5 anos e 10 anos.  

Durante esses períodos o que aconteceu, quanta massa foi perdida pela decomposição? De maneira geral, foram verificadas 3 etapas de decomposição. Nos primeiros 3 meses há uma decomposição rápida, referente à camada externa de celulose. Após esses meses iniciais até o final do segundo ano, observou-se um período de decomposição lenta, devido ao fato de os micróbios não conseguirem atacar acetato de celulose. Em seguida, tendo havido a diminuição de grupo acetato, houve aumento novamente na decomposição. 

O estudo constatou diferentes taxas de decomposição dependendo do substrato utilizado. No período de 5 anos, considerando a campina, o cigarro perdeu cerca de 80% de sua massa, em duna de areia perdeu 75%. Foi constatado que a decomposição é muito mais lenta sem solo. Nesse caso, a perda de massa foi de 52%, com poucas alterações nas fibras conforme verificado em microscópio eletrônico. Nas condições campina e duna de areia a aparência da bituca é completamente modificada, sendo difícil de identificar, como diz o professor, a condição natural do resíduo. E ainda, em campina, micróbios, fungos e bactérias modificaram a estrutura da fibra, não podendo mais ser reconhecida no microscópio.  

Os pesquisadores também buscaram saber quais bactérias e quais fungos estavam presentes em cada condição, tendo sido verificado um resultado bastante complexo. Em cada condição, uma diferente microbiota foi associada. O que foi encontrado em ambiente de campina foi completamente diferente considerando o teste sem solo, por exemplo.   

O pesquisador também buscou analisar a toxicidade associada às bitucas de cigarro. Bonamomi nos informou sobre a existência de uma série de artigos sobre a toxicidade em peixes, em moluscos, sobre o comportamento de pássaros, a toxicidade em plantas, e ainda, que a maioria dos artigos consideram para as análises o cigarro imediatamente após ser fumado, sendo que quase não há informações sobre se a toxicidade aumenta ou diminui durante a decomposição.  

Para responder essa questão foram usaram duas espécies para análises, Aliivibrio fischeri e Raphidocellis subcapitata. O que foi verificado: imediatamente após fumar a toxicidade é muito alta, mas após 1 mês, 3 meses, e 6 meses a decomposição rapidamente decresce. Dando destaque para a segunda espécie, o resíduo se mostrou muito tóxico no começo e, após 3 meses, a toxicidade cai significativamente. Mas após 3 e 5 anos a decomposição volta a ser muito alta. Como informado pelo professor, isso demonstra que as bitucas podem manter toxicidade também durante o longo prazo. Ou seja, não se pode resolver o problema de decomposição deste material no curto prazo.  

Não deixe de conferir a apresentação no Youtube do Mundo SEM Bitucas

Confira também o artigo do professor Giuliano Bonamomi: 

BONAMOMI, G.; INCERTI, G.; CESARANO, G.; GAGLIONE, S.A.; LANZOTTI, V. Cigarette butt decomposition and associated chemical changes assessed by 13C CPMAS NMR. Plos One 10 (1).

Confira também: Pesquisa da UFRGS e UEA aponta que fungos da casca-preciosa podem ser capazes de degradar plástico

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