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Ciências Biológicas

Solo da Antártica contém potenciais aliados no combate ao câncer

Uma nova forma de tratar tumores cancerígenos pode estar presente em bactérias encontradas junto às raízes de uma planta muito comum na Antártica. A descoberta vem de uma pesquisa realizada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba. Além de identificarem uma nova espécie de bactéria com grande potencial para atuar na recuperação de ambientes contaminados, os pesquisadores isolaram dois compostos produzidos pelas bactérias que inibiram o desenvolvimento de tumores de mama, pulmão, rim e glioblastoma em testes de laboratório.

Os resultados do trabalho são descritos em artigo publicado na Nature Scientific Reports. “O objetivo da pesquisa foi estudar a comunidade bacteriana associada a uma espécie de gramínea endêmica ao continente antártico e prospectar linhagens com potencial para inibir o crescimento de tumores humanos”, conta ao Jornal da USP o pesquisador Leonardo José da Silva, da Esalq, que realizou a pesquisa durante a elaboração de sua tese de doutorado.

“As bactérias foram coletadas na Ilha Rei George, localizada na Península Antártica, e isoladas no Laboratório de Genômica da Embrapa Meio Ambiente em Jaguariúna, no interior de São Paulo.” A coleta foi realizada pelo pesquisador em 2014, durante uma expedição realizada com auxílio do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), órgão da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM) da Marinha do Brasil.

Deschampsia antarctica, espécie de gramínea comum na Antártica cujas raízes liberam compostos orgânicos que bactérias usam como alimento – Foto: Leonardo José da Silva

“As bactérias foram coletadas da rizosfera, que é a fração do solo que sofre influência de exsudados radiculares, que são compostos orgânicos liberados pelas raízes das plantas e servem de alimento para micro-organismos. No estudo, os compostos têm origem na gramínea Deschampsia antarctica”, relata Leonardo. “A avaliação de atividade antitumoral foi realizada em parceria com o Departamento de Farmácia da Universidade de Campinas (Unicamp), por meio da plataforma para triagem de compostos antitumorais.”

Nova bactéria

A pesquisa identificou diversas linhagens de bactérias com baixa similaridade em relação a espécies já conhecidas e realizou a descrição de uma nova espécie, que recebeu o nome de Rhodococcus psychrotolerans. “A nova espécie pertence ao gênero Rhodococcus, grupo que possui potencial para aplicação em processos de biorremediação, que é o processo utilizado para recuperar um ambiente contaminado, desde que se utilize um ser vivo como agente ativo”, destaca o pesquisador. “Bactérias do gênero Rhodococcus são conhecidas por habitarem ambientes com elevados índices de contaminantes, além de apresentarem metabolismo altamente versátil à degradação de compostos químicos”, conta ao Jornal da USP.

Ao todo, 11 gêneros de bactérias foram recuperados em laboratório em culturas puras. Os pesquisadores também caracterizaram os compostos actinomicina V e cinerubina B, produzidos pelas bactérias, como agentes responsáveis por inibir o desenvolvimento de tumores de mama, pulmão, rim e glioblastoma.

“Das 17 linhagens bacterianas capazes de produzir compostos eficientes à inibição do crescimento de tumores humanos identificadas no estudo, apenas duas foram analisadas em profundidade”, descreve Silva. “Portanto, ainda há muito o que pesquisar e descobrir, podendo haver substâncias inéditas, bem como novos mecanismos de ação.”

Coleta de amostras de solo na Antártida, realizada em 2014 durante expedição realizada com auxílio do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), criado pelo governo federal em 1982, órgão da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), coordenada pela Marinha do Brasil – Foto: Leonardo José da Silva

O estudo é descrito no artigo “Actinobacteria from Antarctica as a source for anticancer Discovery”, na revista científica Nature Scientific Reports. Além da Esalq, onde o pesquisador realizou o doutorado, o estudo teve a colaboração do Laboratório de Genômica da Embrapa Meio Ambiente, dos departamentos de Farmácia e de Recursos Microbianos (CPQBA) da Unicamp, do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Laboratório de Espectrometria de Massas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

O estudo também teve o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do PROANTAR. Criado em 1982 pelo governo federal, o PROANTAR tem presença no continente antártico, realizando pesquisas em colaboração com diversas instituições sobre os fenômenos que ocorrem na região e repercutem no restante do mundo, especialmente no Brasil.

Fonte: Júlio Bernardes, Jornal da Usp.=
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