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Ciências Biológicas

Pesquisadores analisam presença de microplásticos no conteúdo estomacal de peixes neotropicais em rio urbano em Sorocaba-SP

O plástico traz, junto com seus benefícios, diversos problemas, como as consequências trazidas devido ao descarte irregular no meio ambiente e sua eventual fragmentação em microplásticos. Trata-se de um dos principais poluentes que atuam nos ecossistemas aquáticos, sendo responsável por 60% a 80% dos resíduos encontrados em ambientes marinhos. Existem inúmeros estudos no ambiente marinho que mostram que os microplásticos interferem significativamente na biota marinha, apesar de que estudos que abordam esse tópico em ambientes de água doce, como feito na pesquisa publicada na Revista Ambiente & Água, ainda são incipientes.

Como os pesquisadores observam, o plástico pode alcançar rios e afetar sua biota através da sua degradação em micropartículas. Além disso, poluentes orgânicos persistentes podem acumular nessas micropartículas e, ao serem ingeridos pela biota, podem causar vários problemas fisiológicos. Tais poluentes podem inclusive, também atingir o homem ao consumir água ou peixe, por exemplo.

Com essas informações em mente, a pesquisa consistiu na investigação da dieta das principais espécies de peixes de um trecho urbano do rio Sorocaba, na área urbana de Sorocaba-SP, com o intuito também de verificar a ocorrência de microplásticos em seu conteúdo estomacal.

Os espécimes foram dissecados para retirada dos estômagos, sendo estes medidos e pesados e posteriormente armazenados em recipientes plásticos. Alguns dos resíduos encontrados nos estômagos analisados foram identificados visualmente como microplásticos, por meio de estereomicroscópio, não sendo possível analisá-los por outros tipos de identificação. Para serem classificados como microplásticos, foram consideradas partículas entre 1 e 5 milímetros.

Foram analisados 222 indivíduos pertencentes a 14 espécies, tendo sido estes coletados no período seco e no período chuvoso. As espécies mais abundantes coletadas nos dois períodos foram: Prochilodus lineatus, Astyanax fasciatus, Hoplosternum littorale e Hoplias malabaricus.

Foram identificados dezesseis tipos de itens alimentares, entre os quais apenas cladóceros, crustáceos e coleópteros estiveram presentes apenas no período chuvoso; todos os demais itens estiveram presentes nas duas temporadas avaliadas. Os alimentos mais abundantes nos dois períodos foram material vegetal e sedimento arenoso e lamacento. Dentre os 16 tipos de alimentos, a maioria foi identificada como autóctone, totalizando 10 itens. Já os outros 6 itens foram caracterizados como itens alóctones. O caráter urbano do rio determinou a predominância de itens autóctones, o que limita e reduz drasticamente a disponibilidade de itens alóctones oriundos da mata ciliar, que foi significativamente alterada no trecho estudado.

Fragmentos plásticos classificados como “microplásticos” foram encontrados no conteúdo estomacal de quatro indivíduos: Rhamdia quelen (2 indivíduos), Hoplosternum littorale (1 indivíduo) e Astyanax fasciatus (1 indivíduo). As partículas de plástico encontradas tinham formatos diferentes, tendo sido possível identificar o tipo de material plástico apenas visualmente, sendo que o tamanho dos microplásticos encontrados variou em aproximadamente 1 e 3 milímetros. Entre estes fragmentos, um continha tinta látex e os demais fragmentos plásticos degradados.

Quando encontrados em grandes quantidades, os microplásticos podem prejudicar a saúde dos peixes, por exemplo, por meio do acúmulo de metais pesados e da perda de saciedade. São responsáveis por causar efeitos físicos negativos ao impedir a absorção de nutrientes devido ao seu acúmulo em apêndices alimentares e danos aos tecidos gastrointestinais, além de efeitos fisiológicos que causam mudanças comportamentais.

Os resultados mostraram que dos quatro fragmentos de microplástico encontrados, a origem exata do microplástico é incerta; dois deles se assemelham a fibras de plástico. As partículas encontradas aparentemente provêm de partículas maiores de plástico, sendo fragmentos, reforçando o fato de os microplásticos ingeridos pelos peixes provirem de materiais maiores que foram degradados até atingirem o ambiente onde foram ingeridos.

O estudo confirmou que o rio Sorocaba é afetado por microplásticos e que os peixes consomem essas partículas, e apesar de ter sido encontrado em baixas quantidades, esse resultado já pode ser considerado um indício de que a saúde dos peixes pode ser prejudicada ao longo do tempo devido ao aumento de plástico nos ecossistemas aquáticos.

Os pesquisadores observam que novos estudos envolvendo não apenas o conteúdo estomacal de peixes, mas também a análise de sedimentos encontrados em diferentes pontos do rio e estudos envolvendo invertebrados podem ajudar a esclarecer a magnitude do impacto causado pelos microplásticos na cadeia alimentar, reforçando a necessidade de novas pesquisas serem realizadas.

Fonte: OLIVEIRA, C.W.de S.; CORRÊA, C.dos S.; SMITH, W.S. Food ecology and presence of microplastic in the stomach content of neotropical fish in an urban river of the upper Paraná River Basin. Revista Ambiente & Água [online], v.15, n. 4, e2551.
Leia o artigo completo. Acesse: doi.org/10.1590/s1413-41522020193900.

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