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Ciências Biológicas

71% das espécies de primatas do mundo têm menor risco de extinção em terras indígenas, diz estudo

Os primatas – especialmente os macacos – são os mamíferos mais ameaçados de extinção no mundo. Mais da metade das 521 espécies existentes estão sob risco, sendo que 93% delas se encontram com as populações em declínio. Esse cenário seria ainda mais agravado se não fosse a preservação da biodiversidade em terras indígenas.

Apesar desses territórios representarem 30% da distribuição geográfica dos primatas de todo o planeta, 71% das espécies habitam as áreas dos povos tradicionais. É o que comprova um estudo publicado na Science Advances, uma das revistas científicas mais prestigiadas do mundo.

Os professores Alejandro Estrada, do Instituto de Biologia da Universidade Autônoma do México, e Paul Alan Garber, do Departamento de Antropologia da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, lideraram a pesquisa de escala global em parceria com 23 pesquisadores de 13 países.

O professor do Departamento de Ecologia e do Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Sidney Feitosa Gouveia, é um dos quatro brasileiros que assinam a publicação. Ele tem desenvolvido pesquisas relacionadas à macroecologia, métodos comparativos filogenéticos, ecologia teórica e conservação da biodiversidade.

“Já sabíamos da importância da preservação desses territórios indígenas para a manutenção dos povos tradicionais e suas culturas. O que esse trabalho mostra é que, além disso, a proteção dessas áreas é importante para proteger a biodiversidade e todos os serviços ecossistêmicos que advém dela,” destaca o pesquisador.

Habitat dos primatas

As espécies de primatas conhecidas até hoje no planeta habitam 91 países, a maioria nas regiões tropicais e subtropicais, como Brasil, Congo e Madagascar. Eles atuam direta e indiretamente para a conservação de ecossistemas florestais, influenciando desde a dispersão de sementes à estabilidade climática.

“São animais que desempenham um papel muito importante na manutenção das florestas e, consequentemente, no fornecimento de serviços ambientais e ecossistêmicos. Tudo isso depende de ambientes naturais preservados e os primatas funcionam como sentinelas, sensores da saúde da floresta,” explica Gouveia.

Sobreposição geográfica

A maior diversidade de espécies de primatas em territórios indígenas foi identificada a partir da sobreposição de mapas geográficos com dados da distribuição de primatas e da localização de territórios indígenas e áreas protegidas, como parques nacionais e unidades de conservação.

Na chamada região neotropical, que compreende os países da América Central e do Sul, a exemplo do Brasil, 41% das espécies de primatas habitam territórios indígenas. O estudo revela que a ameaça de extinção de espécies nessas áreas indígenas cai de 68% para 30% na comparação com o cenário mundial.

Sobreposição geográfica entre distribuição de primatas, terras indígenas e áreas protegidas

Sobreposição geográfica entre distribuição de primatas, terras indígenas e áreas protegida

Povos indígenas

O comportamento dos povos indígenas, seja na constrição à caça no território do Xingu, na Amazônia, seja na concepção de reencarnação do povo Baka, em Camaraões, está associada à biodiversidade das espécies de primatas.

“Povos indígenas adquiriram conhecimentos que os possibilitam tirar proveito da resiliência do ecossistema em que vivem para promover a biodiversidade e viver de forma sustentável,” enfatiza o professor Paul Garber.

O primatologista aponta que as principais ameaças à sobrevivência dos primatas fora de áreas indígenas estão relacionadas ao desmatamento em larga escala e a exploração dos habitats naturais para a criação de gado, agricultura industrial, construção de barragens, mineração e construção de redes rodoviárias e ferroviárias.

“O que precisa ser feito é expandir a área de terras não-indígenas que contêm população primata e que são reconhecidas formalmente como áreas protegidas. Elas podem ser parques nacionais ou reservas naturais. É preciso investir em programas de silvicultura de larga escala para restaurar o ecossistema natural dessas terras,” complementa.

Fonte: Josafá Neto – UFS Ciência.

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