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Ciências Agrárias

Uso racional da água pode levar Brasil a atingir autossuficiência na produção de trigo

Em 2022, o Brasil teve a maior safra de trigo de sua história, com 9,5 milhões de toneladas de grãos. Por mais que o número e a marca sejam impressionantes, o País ainda não é autossuficiente em produção tritícola. Segundo a Conab, para suprir a demanda interna foram importadas 515,3 mil toneladas de trigo só no ano passado. Desde a década de 70 do século passado, pesquisadores brasileiros vêm investindo em pesquisas na área da produção do trigo, o que fez com que, desde lá, a produtividade crescesse, em média, 3,5% ao ano. O consumo mundial, porém, cresce mais do que a produção. Esse volume corresponde a 75% do consumo nacional, que é bem abaixo do consumo norte-americano e europeu, por exemplo.

Nessa seara, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP desenvolveu um estudo sobre manejo da água e irrigação aplicados à cultura do trigo. Segundo a pesquisa, a agricultura irrigada é responsável por 40% de todo o fornecimento mundial de alimentos e é a aposta para aumentar a produtividade do trigo e outros grãos. Porém, a falta de pesquisa sobre os solos e qual seria a quantidade necessária de água para o cultivo representam um problema para a sustentabilidade e o meio ambiente.

Por meio de um estudo detalhado e com apoio de outras universidades que conduziram pesquisas em outras instituições foi possível caracterizar o trigo brasileiro, mostrando quanto ele utiliza de água em diferentes regiões e solos do País. Antes, o coeficiente de irrigação dos Estados Unidos e Europa era utilizado, mesmo que o solo e o clima sejam totalmente diferentes do brasileiro.

Gasto de água

“A realidade hoje da irrigação, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, é que se usa mais água do que o necessário. Quando a gente está usando mais água, nós estamos tirando a água do rio, nós estamos tirando água de uma represa e muitas vezes competindo com os produtores e competindo com a área urbana. E é isso que a gente quer evitar”, diz Fábio Marin, professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Esalq e um dos pesquisadores do estudo.

A ideia é racionalizar o uso de água e assegurar a alta produtividade. A escassez de água, principalmente durante períodos de seca – que inclusive pode se estender por longos períodos de tempo –, também é uma das preocupações do estudo. Otimizar o uso da água, dando ao solo e à colheita o tanto necessário, é importante, visto a disputa em várias regiões do Brasil pelo recurso hídrico. “Isso tem sido feito no Brasil e no mundo usando mais água do que o necessário. O estudo entra exatamente aí, racionalizando o uso da água e mantendo autonomia de produtividade, para que possa ter mais alimentos sem desmatamento”, diz o professor.

A demanda mundial por alimentos está crescendo e deve se expandir ainda mais nos próximos 30 anos. As duas opções para suprir essa necessidade são: o aumento da área cultivada ou o aumento da produtividade. “A irrigação é uma forma de fazer isso, porque, quando a gente supre a cultura adequadamente com água e ela expressa o seu potencial genético, ela vai produzir o máximo possível”, complementa Marin. A irrigação feita da maneira certa, sem prejudicar o meio ambiente, entra nessa última opção: mais alimento, com um menor desmatamento.

Brasil autossuficiente?

A boa notícia é que o Brasil tem condição de ser autossuficiente em trigo. O professor, porém, diz que a produção fica à mercê da regulação do mercado: “O preço do trigo internacionalmente é relativamente baixo, e o nosso custo de produção é relativamente alto. Muitas vezes não há interesse econômico em produzir trigo aqui”. Ambientalmente, o País é capaz de atingir a autossuficiência; economicamente, ainda pode ser um obstáculo.

“Eu acho que o papel do governo é exatamente investir em pesquisa, assim como ele está fazendo aqui com a gente [USP] e como ele está fazendo para a Embrapa, para que possamos fornecer subsídios aos produtores para se tornarem competitivos em termos internacionais. O mercado privado e seus produtores estão conseguindo baixar seus custos e colocar esse trigo no mercado para competir com esse tipo internacional”, finaliza Marin.

Fonte: Jornal da USP

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