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Pesquisas em Saúde

Estudo da UFF analisa impacto da inatividade física nos gastos do SUS com a saúde

Muito já se falou, em inúmeros veículos de comunicação e divulgação científica, a respeito de como a inatividade física afeta negativamente a saúde. Mas e sobre o quanto ela impacta no bolso? Buscando compreender a  matemática por trás do sedentarismo, o estudo intitulado “Implicações socioeconômicas da inatividade física: panorama nacional e implicações para políticas públicas”, que tem a coordenação executiva do subchefe do Departamento de Economia da UFF, Marco Antonio Vargas, lança luz sobre as consequências da falta de atividade física na população brasileira. O estudo apresenta-se como ferramenta útil para lidar com os desafios desse cenário, ainda mais agudo no contexto pós-pandemia, visando contribuir para a formulação e implementação de políticas no campo da saúde preventiva, assim como ao estímulo à prática de atividade física no país.

O projeto teve início em julho de 2019 e envolveu uma equipe interdisciplinar de pesquisadores coordenada pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – (In) Atividade Física e Exercício da UFF, e que contou com a participação do Laboratório de Ciências do Exercício (LACE) e do Núcleo de Pesquisa em Indústria, Energia, Território e Inovação (NIETI). Segundo o reitor e coordenador do INCT(In) Atividade Física e Exercício da UFF, professor Antonio Claudio Lucas da Nóbrega, o tema faz parte da agenda de pesquisas do instituto, que reúne mais de cem pesquisadores de todo o país para tratar de um problema nacional: a inatividade física. Um dos desdobramentos desta agenda foi o estudo realizado em parceria com a Faculdade de Economia.

As internações que podem ser atribuídas à inatividade física decorrentes de DCNTs representaram um custo estimado em cerca de R$ 290 milhões para o SUS em 2019. – Marco Antonio Vargas

“A concepção inicial do estudo originou-se a partir de uma articulação entre a universidade e o Poder Legislativo Federal, através de uma demanda do Deputado Federal Otávio Leite em parceria com o Conselho Regional de Educação Física-CREF1. Nossa proposta é a de dar continuidade à pesquisa, através de mais aprofundamentos; por exemplo, direcionando gastos com medicamentos, na saúde privada, para mostrar o impacto da inatividade física na vida das pessoas, bem como usar estes dados como subsídio para a construção de políticas públicas de retorno, que sejam custos efetivos”, destaca.

De acordo com o coordenador Marco Antonio, “a inatividade física constitui um dos principais fatores de risco associados à mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) em âmbito global e nacional. A partir desta constatação, o estudo procurou ancorar novas evidências no debate sobre os custos econômicos da inatividade no Brasil. Partindo do uso de diferentes bases de dados, buscou-se estabelecer uma correlação entre variáveis como a prevalência de inatividade física em diferentes estratos populacionais e regiões do país, os custos associados ao tratamento de DCNTs e os investimentos públicos em programas de incentivo à prática esportiva”, explica.

Estatísticas da OMS alertam para altas taxas de inatividade física no país

Segundo dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS), a inatividade física é um fenômeno que envolve mais de 20% da população mundial de adultos e mais de 80% da população mundial de adolescentes. Ou seja, um em cada quatro adultos, e quatro em cada cinco adolescentes não fazem atividades físicas regulares suficientes para atender às recomendações globais estabelecidas pela OMS. A prevalência de níveis insuficientes é alta em todo o mundo. Cabe ressaltar que, de acordo com as diretrizes, recomenda-se pelo menos de 150 a 300 minutos de atividade aeróbica moderada a vigorosa por semana para adultos, e uma média de 60 minutos por dia para crianças e adolescentes.

Ainda conforme esses dados, 27,5% da população global não atinge níveis mínimos desejáveis de atividade física durante a semana. Especificamente na América Latina e no Caribe, 39,1% da população é fisicamente inativa. E dentre os países do bloco, o Brasil apresenta a maior prevalência de inatividade física, em que 47% de sua população não atinge os níveis mínimos recomendados.

Marco Antonio explica que, além de representar um fator de risco crescente para a saúde populacional, a maior incidência de inatividade física no mundo tem acarretado um aumento expressivo nos gastos com saúde, particularmente com tratamentos de DCNTs, tais como diabetes, hipertensão, neoplasias de cólon e mama e doenças isquêmicas do coração, entre outras: “No Brasil, o estudo mostra que, em 2017, as doenças crônicas não transmissíveis já representavam cerca de 6,5% das internações e 10,6% dos custos de internação no SUS. Tais doenças apresentam diferentes níveis de risco associados à prevalência da inatividade física e representam uma parcela não desprezível dos custos de internação no SUS atualmente”, enfatiza. 

O coordenador ressalta que as internações que podem ser atribuídas à inatividade física decorrentes de DCNTs representaram um custo estimado em cerca de R$ 290 milhões para o SUS em 2019. Nesse sentido, o estudo aponta que a redução na prevalência de inatividade física na população brasileira representa uma economia potencial significativa de recursos orçamentários na saúde, considerando-se somente o custo com internações do SUS.
Além disso, a pesquisa permite compreender a prevalência de inatividade de acordo com o comportamento de algumas variáveis, tais como: níveis de escolaridade, de renda, e gênero. A partir de dados do Vigitel (2017), observa-se, por exemplo, que o sedentarismo é maior entre os indivíduos com sete anos ou menos de escolaridade (57,92%) em comparação com aqueles que possuem 12 anos ou mais de escolaridade (41,18%).

Dessa forma, explica Marco Antonio, “é possível afirmar que existem alguns fatores de risco associados à inatividade física que remetem às condições sociais da população. Tais informações são importantes para fins de formulação de políticas públicas. Entretanto, cabe ressaltar que tais políticas devem, necessariamente, partir de um olhar sistêmico sobre o problema, considerando por exemplo, a articulação entre as especificidades dos padrões de inatividade em diferentes segmentos populacionais, o perfil dos programas e investimentos em infraestrutura para lazer e desporto nos municípios, assim como a formação de profissionais da saúde e esporte”.

De acordo com a análise de dados da Base de Informações Municipais do IBGE (BIM-IBGE), cerca de 88% dos municípios brasileiros contam com algum tipo de ação, projeto ou programa permanente na área de esporte. Entretanto, esse percentual é bem mais baixo quando se observa a existência de programas na área de esporte voltados à inclusão social em comunidades carentes (26,4%) ou para pessoas com deficiência (16,8%). Ao mesmo tempo, ao longo dos últimos anos constata-se uma queda significativa dos gastos com desporto e lazer na esfera federal, que representa, em média, apenas 0,024% do total de gastos federais.

Para o pesquisador, existe, portanto, um espaço para a ampliação dos investimentos na área do desporto e lazer, mas é necessário que estejam claramente articulados com os objetivos de políticas públicas na área de promoção da saúde no âmbito do SUS. “É fundamental que a prática da atividade física esteja crescentemente inserida como um dos componentes centrais nas políticas de promoção da saúde nos diferentes âmbitos de governo, mas ainda temos um longo caminho a percorrer”, finaliza.

Fonte: Fernanda Cupollilo, UFF.

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