Pesquisa avalia potencial de fitorremediação da cebola no tratamento do esgoto bruto
A espécie humana tem aumentado significativamente a concentração de substâncias xenobióticas no meio ambiente como resultado de atividades urbanas, domésticas e industriais. Muitas dessas moléculas, quando lançadas ao meio aquático, prejudicam todo o ecossistema e a cadeia alimentar e, embora alguns rios tenham capacidade de autopurificação, sabe-se que muitos não alcançam esse efeito.O esgoto e seus subprodutos, como o lodo de esgoto, por exemplo, podem apresentar altas concentrações de elementos potencialmente tóxicos, representando um risco potencial para todo o ecossistema.
Segundo o Instituto Trata Brasil (2018), como informado na pesquisa de Bertan et al publicada na Brazilian Journal of Biology, apenas cerca de 51% da população brasileira tem acesso à coleta de esgoto, sendo que apenas 45% recebem tratamento. Este trata-se de motivo importante para avaliar os efeitos da poluição ambiental, principalmente aquela gerada por esgoto, sobre os organismos, especificamente no que se refere à toxicologia.
Relacionada ao tratamento de áreas contaminadas, a fitorremediação é um processo de descontaminação em que as plantas são utilizadas para remover poluentes do meio ambiente ou para transformar os poluentes em substâncias menos perigosas para os seres vivos. Ela oferece enormes benefícios ambientais a um custo inferior aos métodos físico-químicos. Como observado na pesquisa, essa área de estudo ganhou impulso nos últimos dez anos, com a descoberta da capacidade de biotransformação que as raízes das plantas têm sobre as moléculas orgânicas exógenas.
Tendo em vista essas informações, a pesquisa de Bertan et al teve como objetivo avaliar a atividade de fitorremediação de raízes de Allium cepa L. (cebola) expostas ao esgoto bruto, bem como a atividade tóxica aguda desse efluente para os bioindicadores A. cepa, através de um teste de citotoxicidade, e Artemia salina L. (microcrustáceo que vive em água salgada), através de um teste de mortalidade/imobilidade. As avaliações físico-químicas do esgoto foram realizadas em dois cenários: imediatamente após a coleta e após contato com raízes de cebola (fitorremediação) por 24 horas.
Bulbos de cebola pesando 70 gramas por unidade foram acondicionados para enraizamento em copos descartáveis de plástico com água filtrada em temperatura ambiente em local arejado e escuro. Quando as raízes da cebola alcançaram cerca de 2 cm de comprimento, dez bulbos de cebola foram selecionados e colocados em contato com 1.500 mL do esgoto bruto fornecido pela SANEPAR (150 mL de esgoto/bulbo) por 24 horas. O objetivo foi o de verificar a quantidade de carga orgânica que as raízes poderiam absorver neste período e, portanto, sua capacidade de promover a fitorremediação do efluente.
No caso, destacam os pesquisadores, a Allium cepa L. (cebola) tem sido amplamente utilizada como organismo bioindicador em experimentos, pois além de suas raízes crescerem rapidamente, é bastante sensível às mudanças ambientais, tornando seus resultados comparáveis aos obtidos com procariotos, sistemas de teste de linfócitos e teste de Ames. A Artemia salina L. também é um organismo amplamente utilizado para avaliar os níveis de toxicidade, pois é altamente sensível e fornece respostas biológicas em um tempo relativamente curto, além de ter uma boa correlação com a toxicidade aguda oral in vivo.
Os dados físico-químicos obtidos indicaram que houve redução nos níveis de nitrogênio e fósforo e na demanda bioquímica de oxigênio no esgoto tratado. Os dados mostraram que houve redução de 32%, 18% e 11,8% nas concentrações de nitrogênio, fósforo e DBO5, respectivamente. Os resultados do teste de citotoxicidade com A. cepa indicaram uma redução nas divisões celulares mitóticas das cebolas tratadas com o esgoto bruto. O teste de mortalidade/imobilidade com A. salina indicou que as concentrações com 50 e 100% de esgoto bruto induziram a mortalidade dos náuplios (se refere ao estágio larval, após a eclosão).
Apesar desses resultados, os autores destacam que novos estudos devem ser realizados buscando maior eficiência fitorremediadora de cebolas ou outras plantas, aumentando o período de exposição do esgoto às raízes da cebola. Além disso, também indicam reduzir o volume de esgoto por bulbo, avaliar a concentração de metais pesados na amostra e verificar se eles são correlacionados com a citotoxicidade, verificando o acúmulo de compostos como nitrogênio, fósforo e alguns metais para verificar a capacidade de bioacumulação das plantas ou se o que foi absorvido é degradado no metabolismo vegetal e, por fim, verificar a citotoxicidade e toxicidade da matéria-prima e esgoto tratado para os bioindicadores A. cepa e A. salina.
Leia o artigo completo. Acesse: doi.org/10.1590/1519-6984.214278.
