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Ciências Biológicas

Pesquisadores avaliam o uso do biossólido de lodo de esgoto para recuperação de solo impactado pela mineração de carvão

A mineração de carvão a céu aberto, prática comum na região Carbonífera de Santa Catarina, que leva à remoção dos horizontes superficiais do solo e da matéria orgânica contida nessa camada, causou sérios problemas em sua estrutura, na disponibilidade de água e nutrientes, além de afetar a atividade biológica do solo. A atividade leva a limitações no estabelecimento de plantas nos solos degradados, e ocorrem principalmente pela compactação, pH ácido e baixo teor de nutrientes, especialmente N e P. Nesse sentido, os pesquisadores Kitamura et al (2020), destacam que o fornecimento de uma fonte de matéria orgânica, como biossólido de lodo de esgoto, trata-se de uma prática fundamental para garantir o estabelecimento da vegetação nessas áreas.

Nesse contexto, o estudo buscou avaliar o biossólido, submetido a tratamento térmico, como uma alternativa de uso em programas de recuperação ambiental de áreas degradadas pela mineração de carvão, avaliando-se o estabelecimento de espécies herbáceas (aveia preta, ervilhaca e azevém) e os atributos químicos e microbiológicos do solo. O experimento foi conduzido em uma área da Carbonífera Metropolitana S/A, localizada no município de Treviso (SC).

Os tratamentos constituíram-se de concentrações de biossólido de 0, 6,25, 100, 250 e 500 Mg ha-1, incorporados ao solo até a profundidade de 10 cm. O experimento foi implantado no dia 13 de julho de 2016 em, aproximadamente, 500 m2 de área minerada, a qual recebeu uma camada de 30 cm de solo argiloso. Em seguida, amostras de solo foram coletadas nas camadas de 0-5, 5-10 e 10-20 cm de profundidade, em cinco pontos aleatórios dentro da área de implantação do experimento, para caracterização inicial. Ao fim do experimento, em 25 de outubro de 2016, coletaram-se cinco sub-amostras de solo, nas camadas de 0-5, 5-10 e 10-20 cm de profundidade.

A aplicação do biossólido não promoveu alteração nos valores de pH do solo em nenhuma das profundidades avaliadas em um mesmo tratamento. Contudo, ao se comparar os solos que receberam 100 e 250 Mg ha-1, os maiores valores de pH foram observados na camada 0-5 cm, diminuindo os valores de pH nas demais profundidades. De acordo com a Comissão de Química e Fertilidade do Solo do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, os valores de pH obtidos são considerados baixos, podendo estar relacionados à presença dos estéreis de mineração e à oxidação da pirita. O pH do solo é o atributo que interfere de forma mais intensa na disponibilidade de nutrientes no solo, sendo o pH ideal para o desenvolvimento da maioria das culturas na faixa de 5,5 a 6,5.

Também foi observado que o aumento das concentrações de biossólido promoveu redução na acidez potencial do solo na camada superficial. As reduções percentuais na acidez potencial do solo foram de 27, 61, 55 e 92% para os tratamentos 6,25, 100, 250 e 500 Mg ha-1, respectivamente, em relação ao tratamento controle. A acidez potencial é a capacidade do solo em resistir à alteração do pH, sendo influenciada pela composição do solo, especialmente os teores de argila e matéria orgânica.

O uso do biossólido aumentou a disponibilidade de nutrientes no solo, como P e K, especialmente na camada 0-5 cm, em que os maiores valores foram observados no tratamento com 500 Mg ha-1 de biossólido. O incremento nos teores de P, por exemplo, foi de 13 vezes em relação ao controle. Isso ocorreu devido aos elevados teores desse nutriente contido no biossólido, o que favorece o desenvolvimento das plantas. Para o parâmetro altura das plantas, observaram-se os maiores incrementos com aplicação de 100 Mg ha-1 de biossólido, com acréscimo de 4,2 vezes em relação ao tratamento controle.

A fim de avaliar os efeitos do biossólido adicionado ao solo com as interações biológicas no sistema solo-planta, analisaram-se os parâmetros colonização micorrízica, esporulação e nodulação radicular nas espécies consorciadas submetidas a diferentes tratamentos com biossólido. A colonização micorrízica por FMA (Fungos Arbusculares Micorrízicos) e a esporulação não sofreram efeito com a adição de biossólido, não demostrando variação entre os tratamentos. Em contrapartida, os valores da contagem de esporos do solo pré-experimento e pós-experimento indicaram que a adição de biossólido promoveu um decréscimo médio de 42% em relação ao número de esporos presentes no solo antes da aplicação dos tratamentos, sugerindo que o biossólido possui influências negativas para essa variável.

De maneira geral, como concluem os autores da pesquisa, o uso do biossólido como componente de substrato em áreas degradadas pela mineração de carvão é uma alternativa viável para a disposição final desse resíduo tendo em vista a economia de fertilizante que esse material pode proporcionar, além dos benefícios ambientais associados ao seu uso, tendo melhorado os aspectos de fertilidade do solo degradado. Foi verificado que as concentrações iguais a 100 Mg ha-1 de biossólido afetaram o crescimento (altura, MSPA e MSR) das três espécies vegetais implantadas, sendo que as concentrações de biossólido testadas não afetaram os parâmetros microbiológicos do solo.

Fonte: KITAMURA, N.C.; LOURENZI, C.R.; BUENO, A.C.; PINTO, A.L.; SOARES, C.R.F.S.; GIACHINI, A.J. Biossólido no estabelecimento de espécies herbáceas e nos atributos químicos e microbiológicos em solo impactado pela mineração de carvão. Engenharia Sanitaria e Ambiental [online], v.25, n.04, p. 607-617, 2020.
Leia o artigo completo. Acesse: doi.org/10.1590/s1413-41522020182506.

Veja também: Pesquisa avalia potencial de fitorremediação da cebola no tratamento do esgoto bruto

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