Pesquisa utiliza plataforma de ciência cidadã e descreve local de refúgio de 378 espécies de anfíbios
Utilizando fotos produzidas por voluntários e disponibilizadas na plataforma iNaturalist, o professor Lucas Rodriguez Forti, do Departamento de Biociências da UFERSA, pôde descrever o habitat de refúgio de 378 espécies de anfíbios da América. Graças aos voluntários, 87% dessas espécies tiveram seus habitats de refúgio conhecidos pela primeira vez. O trabalho, produzido juntamente com outros cinco colegas, foi publicado na edição mais recente da Revista Zoology. “Em nosso artigo mostramos que o clima regional e a relação de parentesco entre as espécies são importantes fatores que determinam os habitats utilizados por esses animais para se abrigarem”, diz Lucas Forti.
Outro ponto trazido pelo estudo fala sobre o comportamento de espécies em risco de extinção. “Mostramos que espécies ameaçadas e quase ameaçadas são raramente observadas em refúgios artificiais, ou seja, habitats alterados pelo homem. Nossos resultados são importantes para pensarmos sobre estratégias de conservação e também sobre os potenciais efeitos de mudanças climáticas globais sobre o uso de habitat por espécies da vida selvagem”, detalha o pesquisador.
O interesse pelo tema, de acordo com o professor, surgiu durante a pandemia. “Conheci a ciência cidadã buscando alternativas metodológicas para produzir conhecimento sobre a biodiversidade. Percebi que a ciência cidadã pode ir onde muitos pesquisadores profissionais não são capazes de acessar, produzindo muito mais dados do que seria possível por meios tradicionais. No programa de pós-graduação, hoje em dia, ensino e discuto o uso dessa abordagem com alunos e colegas”. O site iNaturalist, utilizado por ele, reúne uma comunidade de mais de 2 milhões de usuários. Quem faz parte da ´plataforma pode postar e acessar fotos de plantas e animais de diferentes partes do mundo.
“Sempre trabalhei com os anfíbios, que são animais curiosíssimos, e uma das grandes inquietações da minha geração de herpetólogos era entender para onde esses animais vão quando não estão nas lagoas vocalizando e reproduzindo. Descobrir os habitats que esses animais utilizam para descansar ou escapar de condições adversas é fundamental para informar as tomadas de decisão sobre quais locais precisamos preservar para a conservação das espécies. Portanto, nesse projeto, uni essa questão central ao “trabalho” realizado por pessoas que são entusiastas da natureza e usam o aplicativo iNaturalist para compartilhar suas observações sobre a biodiversidade”, explica Lucas Forti.
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