Pesquisadores analisam a composição e diversidade funcional da flora urbana na cidade mineira de Alfenas
Áreas urbanas possuem grande potencial de ajudar na conservação da natureza, além de propiciar diversas vantagens para populações humanas, contribuir para a qualidade ambiental das cidades, e também servirem como refúgios para ricas comunidades vegetais. Com essas informações em vista, pesquisadores da Universidade Federal de Alfenas estudaram oito áreas verdes públicas da cidade de Alfenas-MG. Uma série de fatores foram analisados, sendo que todas as árvores com diâmetro à altura do peito (DAP) maior ou igual a três centímetros foram mapeadas, fotografadas e identificadas.
Foram pesquisados 1.138 indivíduos de 119 espécies, 101 gêneros e 43 famílias. Dentre os resultados obtidos, percebeu-se que as composições das espécies das áreas se mostraram bastante distintas da vegetação natural, o que era esperado pelos pesquisadores, com grande presença de espécies exóticas. Essa característica é também verificada em outras cidades.
Destaca-se que a introdução de espécies exóticas em locais de arborização urbana deve ser vista com cuidado. Uma série de consequências indesejáveis são reportadas, como competição com espécies nativas e subsequente declínio de sua população, homogeneização das composições de floras urbanas, danos à fauna local associada, e invasões biológicas.
Outro fator a se considerar seria a baixa uniformidade de espécies nessas áreas urbanas. Como observado pelos pesquisadores, a grande maioria da cobertura vegetal em cidades normalmente consiste de apenas uma ou algumas espécies dominantes, com muitas outras em menor abundância. Na cidade analisada de Alfenas-MG, duas espécies dominantes (Poincianella pluviosa e Syagrus romanzoffiana) contaram com mais de 30% da abundância total. De maneira geral, áreas com maior diversidade tendem a ser ecologicamente mais robustas, e há uma recomendação de que uma única espécie não exceda 15% do total de árvores plantadas.
O índice de diversidade funcional no estudo foi considerado baixo para todos os atributos ecológicos. Conforme destacado, há uma falta de literatura investigando esse aspecto em outras cidades brasileiras, tornando difícil que se faça comparações. Como citado na pesquisa, a diversidade funcional deveria ser considerada como uma ferramenta de conservação em projetos de arborização urbana, já que a diversidade de serviços ecossistêmicos apresenta desempenho bem mais importante que o simples número de espécies.
Os pesquisadores destacam que o estudo da diversidade de plantas representa uma ferramenta promissora para a conservação da biodiversidade em ecossistemas urbanos. Essas áreas são cada vez mais comuns com a expansão das populações humanas, e a determinação dos padrões funcionais e taxonômicos serão críticos para entender a dinâmica de comunidade e para subsidiar estratégias de gestão e conservação.
Os resultados mostraram que áreas verdes urbanas podem funcionar como refúgios para ricas comunidades de plantas com significativo potencial de conservação da biodiversidade. Áreas verdes deveriam ser melhor vistas como estratégias complementares para ajudar na preservação de remanescentes florestais, uma vez que suas composições funcionais e florísticas diferem consideravelmente.
Segundo eles, idealmente, a escolha das espécies para áreas urbanas deveria levar em consideração a integridade ecológica e complexidade desses ambientes. Também destacam que árvores nativas regionais de maior porte e espécies de frutas carnudas deveriam ser incluídas em áreas adequadas para aumentar o balanço ambiental, manter e atrair a fauna nativa regional. Encoraja-se a continuação de investigações de padrões funcionais como uma ferramenta para entender a dinâmica de comunidades biológicas em áreas urbanas.
Leia o artigo completo. Acesse: dx.doi.org/10.1590/2179-8087.111017.