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Ciência e Tecnologia

Pesquisas da UFC geram cosméticos para pele com extrato de seriguela e ácido da castanha-de-caju

Encontrar na exuberância da nossa biodiversidade os ativos que possibilitam uma pele saudável e protegida da incidência solar é a proposta das duas mais novas cartas patentes da Universidade Federal do Ceará. Concedidas pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) no último mês de fevereiro, as patentes trazem como produtos dois cosméticos: um com ação fotoprotetora, antioxidante e hidratante, feito da árvore da seriguela, e um segundo com ação bactericida, redutora de oleosidade e desobstrutora de poros, a partir de um ácido oriundo da casca da castanha-de-caju.

Os produtos advêm de estudos coordenados pela Profª Nágila Maria Pontes Silva Ricardo, do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica (DQOI), do Centro de Ciências (CC) da UFC. Com isso, a Universidade chega às suas 40ª e 41ª patentes, totalizando 14 do CC e 6 da docente.

O uso da espécie Spondias purpurea L., ou árvore da seriguela, com a finalidade de cuidar da pele, fundamenta a patente de número 40. De acordo com os pesquisadores, extratos obtidos do caule e das folhas dessa planta demonstraram em testes bons resultados quanto ao fator de proteção solar (FPS), tanto para os raios ultravioleta A quanto ultravioleta B.

Outro benefício está relacionado à propriedade antioxidante, tendo o extrato apresentado resultados significativos, comparáveis aos da vitamina C e do BHT, duas substâncias atualmente utilizadas pela indústria da beleza com esse objetivo.

Além da capacidade protetora quanto ao fotoenvelhecimento, cosméticos elaborados com o extrato da seriguela em sua formulação – que pode ser incorporado de forma livre ou através de nanopartículas ao produto – trazem como vantagem o poder de hidratação. A apresentação do cosmético pode ser feita também nas mais diversas formas: loção, gel, creme, gel-creme, bastão ou pó.

“As preparações cosméticas propostas teriam como intuito a obtenção de um produto com ação conjunta de fotoproteção e antioxidação decorrente do uso dos extratos polifenólicos da espécie. A função hidratante seria ocasionada pelos demais integrantes da formulação dos extratos na forma livre ou nanoestruturada”, afirma a Profª Nágila Ricardo.

Destaca a pesquisadora que os cosméticos produzidos com o extrato da seriguela têm ainda as qualidades de ser veganos e uma proposta inédita no mercado.

“No campo de cosméticos, a busca por produtos de origem natural e que tenham apelo vegano, sem uso de ingredientes de origem animal, tem apresentado constante crescimento nos últimos anos. Diante disso, produtos que utilizam extratos de seriguela podem oferecer uma alternativa a consumidores cada vez mais conscientes e ao mesmo tempo exigentes. Já existem produtos veganos que apresentam em sua composição extratos vegetais, no entanto, com extratos de seriguela ainda não se encontram disponíveis”, diz.

Também assinam o estudo Francisco Alessandro Marinho Rodrigues, Tamara Gonçalves Araújo, Bianca Oliveira Louchard, Anna Carla Castro Barbosa do Nascimento, Guilherme Julião Zocolo, Jhonyson Arruda Carvalho Guedes, Arcelina Pacheco Cunha, Maria Elenir Nobre Pinho Ribeiro e Stéfano Arrais Pereira.

CASCA DA CASTANHA

A carta patente de número 41 aborda preparações cosméticas tendo como ativo o ácido anacárdico, extraído da casca da castanha-de-caju. Com propriedades antimicrobianas, antioxidantes e antiacne, o ácido pode ser utilizado através de nanopartículas na elaboração de produtos de uso tópico para a pele, nos formatos sólido, líquido e semissólido.

Na extração da amêndoa de caju é obtido o líquido da castanha-de-caju (LCC), substância presente na casca da castanha que possui relevância econômica devido a sua ampla utilização na indústria: fabricação de tintas, vernizes, resinas, inseticidas, fungicidas, isolantes, entre outras.

Os pesquisadores extraíram o ácido anacárdico da casca da castanha do caju (Foto: NatureFriend/Pixabay)


Um dos componentes do LCC é o ácido anacárdico, cuja literatura científica traz resultados animadores quanto à proteção de distúrbios fisiopatológicos, agindo desde a atividade antioxidante até prevenção e tratamento de cânceres.

A propriedade analisada pelo grupo de pesquisadores da UFC foi a antimicrobiana para uso cosmético. No entanto, um dos desafios relacionados ao ácido anacárdico residia na segurança toxicológica do ativo, uma vez que, quando usado diretamente sobre a pele, são observados casos de irritação cutânea.

A solução proposta pelos cientistas, sob coordenação da Profª Nágila Ricardo, foi o uso do ácido através de nanopartículas, de modo a garantir uma liberação direcionada e evitar irritações.

“O ácido anacárdico reúne as atividades antimicrobianas e antioxidantes, conferindo à pele maior proteção. Além disso, nanoencapsulado, pode apresentar, dependendo da formulação, efeito de longa duração. Na pesquisa que realizamos avaliando a atividade antimicrobiana contra S. aureus, que é uma das bactérias envolvidas no desenvolvimento da acne e de outras patologias da pele, o ácido anacárdico livre e nanoencapsulado apresentou resultados promissores”, relata a Profª Nágila Ricardo.

Ainda segundo a pesquisadora, com essa nova tecnologia, uma diversidade de produtos de cuidados com a pele pode conter o ácido anacárdico em sua formulação. “O nanoencapsulamento possibilita a diminuição da toxicidade inerente ao fármaco e o aumento da estabilidade da formulação. Dessa forma, a presente invenção traz como vantagem a segurança toxicológica resultante da proteção do ativo em forma de nanopartículas”, comenta.

“Então, a ideia era o desenvolvimento de um produto com ação bactericida, proporcionando limpeza profunda, desobstrução de poros e equilibrando a oleosidade da pele. O ácido anacárdico poderá ser adicionado como ativo em várias formulações, como, por exemplo, sabonete líquido, sabonete sólido, sérum, gel, entre outros”, completa.

Uma curiosidade é que tanto a árvore da seriguela quanto a do caju compõem a mesma família botânica, das anacardiáceas. “A família Anacardiaceae possui inúmeros espécimes relatadas como importantes fontes de compostos polifenólicos, que apresentam potencial antioxidante, antibacteriano, entre outras ações farmacológicas”, revela a coordenadora do estudo.

Também assinam a pesquisa Tamara Gonçalves Araújo, Bianca Oliveira Louchard, Maria Elenir Nobre Pinho Ribeiro, Deyse de Sousa Maia, Ethanielda de Lima Coelho, Raimundo Rafael Almeida, Carolina de Lima e Moura, Aiêrta Cristina Carrá da Silva e Lukas Angelim Matos.

BELEZA SUSTENTÁVEL

No momento, não há previsão de testes em humanos. A a ideia é que seja realizada transferência de tecnologia para que empresas interessadas possam levar os produtos ao consumidor final. Os bons resultados em laboratório, contudo, mostram que, veganos, eficazes e seguros, os cosméticos com extratos naturais disponíveis na região são ainda sustentáveis e acarretam benefícios de ordem econômica.

“O uso de compostos naturais apresenta menor impacto ambiental e, portanto, são ambientalmente amigáveis, pois diversos ingredientes sintéticos presentes em produtos cosméticos convencionais, como fotoprotetores, ocasionam impactos à biodiversidade aquática. O uso de espécies da biodiversidade com baixo valor agregado pode proporcionar uma alternativa econômica para cultivo e comercialização, haja vista a adaptação ao clima e ao solo da região Nordeste”, pontua a Profª Nágila Ricardo.

Fonte: Profª Nágila Ricardo, do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica – e-mail: naricard@ufc.br – Agência UFC

Confira também: Pesquisa da UFRGS e UEA aponta que fungos da casca-preciosa podem ser capazes de degradar plástico

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